Vitorino José
Todos os que se interessam pela história da humanidade não pode deixar de notar que, à rigor, esta história é muito mais a história do homem do que da humanidade.
Isto porque quem contou a história, em toda a história, foram os homens. Sempre narrando grandes feitos masculinos, mesmo sem ignorar totalmente a mulher, sempre a colocaram num grau de inferioridade e de subordinação ao homem. Mesmo as histórias dos grandes vultos femininos foram contadas pelos homens.
Nunca houve na nossa história uma equiparação de direitos e deveres estre os sexos. Este equilíbrio começou a ser buscado pelo movimento feminista em meados do século XX.
Hoje em dia a mulher adquiriu direitos que não tinha, mas também adquiriu deveres e obrigações. E esta questão, a dos direitos e deveres da mulher, ainda não está completamente esclarecida.
Vemos esposas que assumiram parceria com o marido na busca pelo sustento da família, cuja obrigação antigamente era exclusiva dos homens; mas suas obrigações domésticas continuam sendo só delas. Mulheres que acordam cedo, enfrentam condução lotada, chefes e colegas de trabalho nem sempre calmos, compreensivos e educados para, ao final de um dia cansativo, chegar em casa e encontrar uma família faminta à sua espera. E antes do descanso merecido, tem de lavar a louça, pôr as crianças para dormir e dedicar atenção ao marido sempre exigente.
Como explicar tamanha desigualdade? Tarefa difícil. Existem muitas variantes.
No início da humanidade, o ser humano vivia exclusivamente pelos seus instintos, buscando a sobrevivência da espécie. Nesta busca, a força bruta era o fator principal, o quesito indispensável na luta pela sobrevivência. E a mulher, como um ser mais frágil que o homem, tendo que zelar por suas crias, submeteu-se à este em busca de proteção.
A partir daí, podemos notar que a necessidade da força bruta vem diminuindo gradativamente. Nos tempos modernos, mesmo os serviços braçais estão exigindo cada vez menos, a força bruta. O desenvolvimento tecnológico, com suas máquinas poderosas vem assumindo o trabalho pesado, deixando ao homem a liberdade para desenvolver sua intelectualidade.
Porque, então, a mulher não pode assumir de vez seu papel? É porque esbarramos no tradicional, na acomodação. Do ponto de vista que mais nos interessa, o religioso, este assunto começa a se desenhar na criação do homem, segundo Moisés.
Conta-nos Moisés, no seu livro Gênesis, que Deus criou homem e mulher. Adão, o primeiro homem vivia no Jardim do Éden podendo desfrutar de tudo, menos da árvore localizada ao centro do Jardim, chamada de árvore da ciência do bem e do mal. Eva, a mulher criada por Deus a partir de uma das costelas de Adão, deixou-se enganar pela serpente, provou e gostou do fruto proibido, oferecendo-o à Adão que, confiando na mulher, ignorou as ordens Divinas e também provou seu fruto. Ambos adquiriram a ciência do bem e do mal. E a primeira consequência foi a vergonha que sentiram a se identificarem nus.
Deus, ao notar o erro cometido, expulsa ambos do "paraíso", o Jardim do Éden. Mas em sua sentença Deus estabeleceu um conceito altamente perigoso aos olhos do homem do século XXI: "- ... Multiplicarei grandemente tua dor e a tua condição; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará." (Gênesis, 3:16)
Evidentemente que não é nossa intenção discutir a existência ou não de Adão e Eva, nem tão pouco discutir a veracidade das informações divulgadas por Moisés. Nossa intenção é tão somente entender a situação da mulher no meio cristão, ao longo da história.
Para nossa análise, não importa se é verdade ou não. O que importa, é que na época em que foram divulgadas, os Hebreus tomaram estas ideias por verdade absoluta e inquestionável. Esta verdade perdurou entre os Judeus e influenciou os Cristãos que, por sua vez procuraram atenuar a situação feminina como vemos nas cartas de Paulo. Apenas para ilustração destacamos a 1 Coríntios (7:4) quando Paulo diz aos companheiros de Corinto: "A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e, também da mesma maneira, o marido não tem poder sobre o próprio corpo, mas tem-no a mulher." Ora, não vemos aqui, de forma explícita e inegável, a importância da fidelidade conjugal e da igualdade perante o sexo?
Existem inúmeras passagens e ensinamentos ao longo do Novo Testamento colocando homens e mulheres num mesmo patamar. Notadamente nos comportamentos de Jesus esta condição é bem clara.
No entanto, logo após o período Apostólico, a influência dos costumes judeus e dos pagãos se acentuaram no meio do Cristianismo nascente e fortaleceu-se ainda mais no governo do Imperador Constantino quando o Catolicismo foi declarado como a religião oficial do estado romano.
Infelizmente a humanidade preferiu a afirmativa do deus de Moisés ("... o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará") à afirmativa do Apóstolo dos Gentios (1 Coríntios, 7:4).
Com a humanidade mergulhada na Idade Média, a situação da mulher tornou-se ainda mais cruel. Ora, não foi por causa da mulher que Adão foi expulso do Paraíso? Não foi ela que, levianamente deixou-se enganar pela serpente? Não foi ela que influenciou Adão a tomar a errada decisão?
A humanidade parece ter concluído que:
Foi neste período que as mulheres, por qualquer razão eram condenadas à fogueira sob pretexto de serem bruxas. Eram tidas como insaciáveis, faladeiras, sensuais e lascivas. Por isso mesmo, atraíam facilmente os homens para o pecado.
Mas até em matéria de servidão à Satanás as mulheres ficaram por baixo. Enquanto elas eram tidas como bruxas (servas do diabo; instrumentos do diabo para a perdição dos homens); eles eram chamados de bruxos ou feiticeiros (pessoa que fazia acordo com o Diabo para a obtenção de favores).
Com o fim da Idade Média, o pensamento humano ganha ares frescos e a mente começa a buscar um nível de esclarecimento superior. Logo após a Revolução Francesa, durante o domínio de Napoleão Bonaparte, surge o Espiritismo como doutrina esclarecedora.
Diferentemente de todas as Religiões, o Espiritismo não se afirma como tal, entendendo ser, antes de tudo, uma Filosofia com característica científicas e consequência religiosa. Esta nova visão abre as cortinas do desconhecido revelando o Mundo Espiritual.
Mas, tanto quanto o Cristianismo, o Espiritismo também não foi aceito pela maioria da humanidade e, não fosse a ação sempre prudente da Espiritualidade Superior, teria caído no esquecimento.
Foi no Brasil que o Espiritismo encontrou solo fértil para frutificar.
O movimento Feminista no Brasil também ganhou adeptos.
Tudo isso deveria se suficiente para que a mulher ocupasse seu lugar de igualdade com os homens. Mas não foi!
As pessoas que estão na terceira idade, nos dias de hoje, lembram-se dos padrões austeros em que foram criados, com a mulher ainda ocupando o lugar de subserviência mas com funções mais distintas. Fruto da ignorância? Talvez. É quase certo que a maioria das pessoas, na época de novos avós, não tinham acesso à cultura. Nem ao Espiritismo, talvez porque era "coisa do diabo", e por ai vai...
O movimento Feminista, parece-nos ter cometido alguns equívocos. É certo que trouxe muitos benefícios, mas equivocou-se ao afirmar certos direitos femininos, coisa do tipo: "Se o homem tem o direito de fumar, as mulheres também tem!", ou "Se os homens tem o direito de beber, as mulheres também!". E porque o equívoco? É que nenhum homem tem esse direito. Não temos o direito de destruir nosso corpo seja da forma que for. Fumar ou beber nunca pode ser visto como um direito, mas como uma liberdade. Quando temos a liberdade de fazer algo, e fazemos, assumimos a responsabilidade do ato e suas consequências.
O Espiritismo nos esclarece que o sexo não existe para o Espírito. Quando vamos reencarnar não importa qual o sexo que teremos, pois o importante é que o sexo escolhido ofereça condições para cumprirmos nossa tarefa. Por exemplo, se tenho uma necessidade de aprender a valorizar a vida, nada melhor do que nascer como mulher para viver as alegrias e padecimentos de ser mãe. Aí aprendo a valorizar a vida. Como se vê, não importa se vou nascer homem ou mulher, o que importa é que terei condições de cumprir aquilo a que me propus.
Não existem homens e mulheres. O que existem são Espíritos. Todos somos Espíritos. É um contrassenso se hoje, como homem humilho as mulheres; ou se sou mulher, humilho os homens; porque na próxima encarnação os papéis poderão ser invertidos...
Quando o Espiritismo for aceito pela maioria, a questão da igualdade entre homens e mulheres ficará tão clara que deixará de ser uma questão a ser discutida; e artigos como este, que agora escrevo, não existirão exceto, talvez, nos livros e aulas de História.
Mas, se assim for, me pergunto se os homens que conhecem e entendem o Espiritismo tratam as mulheres com o devido respeito? E as mulheres, como tem se comportado?
Em meio a nossa sociedade carente de elevação moral, o Espírita tem se destacado com um comportamento mais adequado às lições que recebeu?
E, para você que agora lê estas poucas linhas, deixo esta pergunta: "Como você tem se comportado, pelo menos em relação ao sexo oposto?"
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