Vitorino José
O tema faz parte do Sermão da Montanha e é tido por alguns como um dos mais belos pronunciamentos de Jesus. Outros destacam especificamente este trecho para afirmar sua preferência, afirmando ser o mais belo de todo o Sermão.
Talvez você concorde, talvez não. Mas o que todos admitem é que não há melhor explicação sobre como deve ser nosso relacionamento com Deus do que este Sermão.
Ao saber de tais afirmações, a interpretação humana entra em campo e começamos a entender como deve ser este relacionamento.
Existem aqueles que dizem que Deus, sendo Onisciente, sabe de tudo e portanto, sabe de todos os meus problemas e todas as minhas necessidades. Sabendo disto, Deus me dá tudo o que preciso sem que eu precise pedir. Portanto, não é necessário pedir para obter.
Estes, estão confundindo o ato de pedir com o ato de informar.
O pedir não tem por objetivo informar a Deus os problemas pois, de fato Ele já sabe de tudo isso e não necessita que o informemos. O ato de pedir a Deus tem por objetivo nos colocarmos em uma posição de humildade e fé para podermos perceber e aceitar os benefícios que nos são enviados por Deus.
Façamos um exercício para melhor entender, e nos lembremos de como nos comportamos como vamos pedir alguma coisa para alguém. Geralmente mudamos nosso modo de falar, somos mais mansos, mais cautelosos com as palavras. Alteramos nossa postura para uma postura mais submissa e até nosso olhar tenta expressar nossa necessidade. Com todas estas alterações pretendemos sensibilizar aquele que achamos que pode nos ajudar, para obtermos o que precisamos ou queremos.
Geralmente estas alterações surtem efeito, e aquele que nos favorece geralmente aproveita a ocasião para nos dar conselhos para não cairmos novamente no mesmo problema.
Com Deus, não é muito diferente. Temos que assumir esta mesma postura, com a diferença que deve ser verdadeira pois Deus não se engana com nossas aparências. Outra diferença é que Deus jamais nos dará alguma coisa que nos traga algum prejuízo. Por isso mesmo, não basta pedir para ter a certeza de que vai receber.
Outra interpretação muito comum diz ter Deus nos dados tudo o que precisamos para viver bem. Temos um corpo, geralmente sadio, e inteligência para buscar o que necessitamos.
São orgulhosos que acham que tudo podem e não dependem da vontade de Deus. Estes não são castigados como se pensa, mas são abandonados à própria sorte e colherão os frutos do seu orgulho.
Se tivermos de pedir a Deus, como pedir, para obter? E, se mesmo pedindo não é certo receber, o que fazer?
Pedi e obtereis é uma frase das mais confortantes porque toda a vez que estamos com um problema o que mais desejamos é que alguém nos ajude a resolvê-lo. Com esta esperança procuramos a tão sonhada ajuda.
Esta ajuda pode vir de qualquer lugar. Contamos nosso problema para os nossos conhecidos na esperança de que nos indiquem uma solução. Geralmente encontramos palavras de bom ânimo, de conforto e de otimismo. Isto quando a pessoa, despreparada, não nos lança num mar de pessimismo piorando nossa situação.
Na verdade, quanto maior o problema, maior o desespero. Não pensamos para aceitar uma proposta que nos acene uma solução. Confessamos nossos males para pessoas erradas, aquelas que deveriam ser aconselhadas por nós e não nos dar conselhos.
Pior! Quantas vezes falamos para a pessoa de boa vontade que tenta nos consolar: "Você está falando isso porque não está no meu lugar! Queria ver você falar isso se estivesse passando pelo que estou passando".
Muitas vezes aportamos no Centro Espírita trazendo estas situações difíceis. Às vezes até viemos fazendo um "grande sacrifício" porque nunca gostamos de Espiritismo nem de igrejas, mas para encontrar a cura, a solução, estamos dispostos a tudo.
E a ajuda não vem.
Ficamos desiludidos, desesperançosos e até mesmo revoltados.
Sem perceber, o que realmente queremos é algo ou alguém que resolva nossos problemas sem que tenhamos esforço algum.
A nossa mente, ainda acostumada com as fantasias e misticismos de épocas passadas, quer que tudo se resolva num passe de mágica. Que alguém estale os dedos e tudo seja consumado em nosso favor.
Mais ainda: queremos que as coisas se resolvam do nosso jeito, da maneira que queremos. Se não, não tem valor.
Existe outro comportamento que vale a pena lembrar.
Quando se tem um problema, procura-se a causa sempre fora de si. Estamos assim porque alguém fez isto ou aquilo. É alguém que nos deu alguma coisa estragada para comer; alguém ou alguma coisa nos levou a fumar ou a beber. Nesta roda viva de acusações culpamos os parentes, os amigos, os vizinhos, a sociedade, os políticos, a polícia ou os bandidos.
Culpamos mesmo é a sociedade. Fica mais fácil. Todo mundo concorda conosco porque também lhes é conveniente concordar e por a culpa na sociedade. Afinal, a sociedade não responde.
Esta é uma maneira de me sentir aliviado, com a consciência tranqüila.
Tranqüila porque acho que estou transferindo a culpa para alguém que não sou eu. O importante é que "eu" não assuma a culpa ou responsabilidade pelos meus problemas.
Assim podemos resumir nosso comportamento diante de nossos problemas em dois comportamentos básicos:
Quando não somos satisfeitos, caímos em depressão. Ficamos deprimidos porque nossa vontade não foi satisfeita. Vem o pessimismo. Agora não é só o nosso problema que não nos deixa. Para piorar tudo, não existe quem resolva meu problema. Se o problema é de saúde, não existe médico que o cure. "Já fui num monte de médicos... e nada! Estou cansado de tomar os remédios que estes médicos receitam... e nada! Não sei para que esta gente estuda tanto se não conseguem resolver um problema simples como o meu! Essa gente só quer saber de tomar nosso dinheiro..." E o desfile de queixas continua.
Não é interessante como identificamos o negativo de tudo? Por exemplo: quando temos uma unha encravada, só pensamos nela, só falamos nela e até parece que não temos outras 9 unhas em perfeito estado. Não, não, o que temos é uma unha encravada, as 9 boas não existem...
Ou então, quando preparamos uma árvore de natal e nela colocamos 1.000 lampadinhas. Aí uma delas se queima. Em qual vamos prestar a atenção? Lógico: naquela que se queimou. As outras 999 que estão funcionando não interessam. O que interessa é só a que apagou...
E por aí vamos até que encontramos finalmente a saída que parece infalível: "Entrego tudo nas mãos de Deus. Ele sabe o que fazer...".
Se a pessoa é vinculada a alguma religião, logo surge o satanás ou o carma para a gente botar a culpa. O espírita, mais "intelectualizados", logo acha a causa de seus problemas que não pode ser outra senão os espíritos obsessores.
E de desculpa em desculpa, numa vã tentativa de esconder-se da responsabilidade, o pessimismo se instala, anunciando em breve a depressão.
A situação se agrava e tudo parece desmoronar.
A fé fica comprometida. A esperança fica de lado.
O Céu me ajudará? De forma alguma. Isto não existe.
Chegamos neste ponto por desconhecermos o processo pelo qual se estabelece em nós o sofrimento.
Ignoramos ou não queremos reconhecer que a causa de nossos sofrimentos está em nós mesmos. Ninguém que na escola repete o ano poderá culpar o professor pelas notas baixas. Esta é a parte difícil da cura porque temos que reconhecer nossos erros e isso nos amedronta, nos fere. E nosso medo será maior quanto maior for o nosso orgulho. Por orgulho achamos que não podemos errar. Não é o medo das conseqüências que nos impede de assumir nossas culpas; é o orgulho que não aceita ser ferido. O orgulho nos causa uma dor maior do que qualquer das dores.
Por isso mesmo, o início da solução de nossos problemas está no desenvolvimento da nossa humildade.
Humildade em saber que não somos perfeitos e por isso iremos fazer o mal. Somos maus porque se fossemos bons não estaríamos encarnados neste mundo de provas e expiações. Não somos bons pois que nem Jesus assim se considerava. Mateus (19, 16:17) nos conta que um mancebo chamou Jesus de Bom Mestre e foi repreendido por Jesus que afirmou existir apenas um que é bom: Deus.
Humildade em admitir que não sabemos tudo; que muito ainda nos falta para aprendermos.
Humildade em saber que muitas coisas boas aprendemos nas diversas encarnações pelas quais passamos, mas também assimilamos muita coisa errada. Nosso pensamento ainda vive impregnado das crendices de outrora. Os misticismos e magias de outras encarnações ainda estão presentes em nossos pensamentos, com outra roupagem.
Ainda queremos que as coisas se resolvam por fórmulas mágicas. Quando vemos uma receita médica queremos acreditar que é uma receita mágica com a assinatura de um médico. Precisamos desenvolver a humildade de querer modificar este pensamento impregnado de misticismo que ainda nos atrasa, que ainda nos deixa bem atrás, na marcha evolutiva.
Ninguém busca intencionalmente o sofrimento. Ao contrário, nosso viver se resume numa constante busca pela felicidade.
Se sofremos, e não queremos sofrer, precisamos buscar a causa do sofrimento para podermos evitá-lo. O sofrimento não é outra coisa senão a conseqüência imediata de uma atitude errada.
Mas, o que é e como evitar uma atitude errada?
Todos sabemos que quando fazemos ou decidimos alguma coisa estamos fazendo o que temos de melhor, em busca do que é o melhor para nós.
Mesmo o marginal, quando rouba ou mata, acredita estar fazendo o que é o melhor para ele. Não existe erro que não tenha nascido de uma crença de que era o melhor a ser feito.
Evidentemente que o nosso melhor de hoje sofrerá profundas alterações de tal forma que o nosso melhor de amanhã será muito diferente do melhor de hoje.
Isso acontece porque aprendemos.
É diferente a instrução do saber. A instrução é a capacidade de entender pelo intelecto, já o saber é a assimilação do entendimento de tal forma que estará completamente integrado em nós mesmos.
Somos hoje o pudemos fazer de melhor, ou o resultado do que temos de melhor.
Por isso já não somos mais os bárbaros de outrora e nos tornamos os civilizados de hoje. Da mesma maneira como no amanhã seremos melhores do que somos hoje, porque todos procuramos fazer sempre o melhor.
A busca pelo fazer o melhor é o que nos leva ao progresso espiritual e é a responsável pelo melhor que somos hoje.
A melhor maneira de solucionar nossos problemas é revendo nossos conceitos. Fazer o melhor para que o nosso melhor seja melhor a cada dia.
Não busquemos a solução dos nossos problemas nos outros, nas coisas e nas situações. Procuremos em nós mesmos.
Em tudo, para que o melhor seja realmente feito, temos que realizar a nossa cota de trabalho. Temos que fazer a nossa parte.
Rever conceitos não é uma tarefa fácil. Estamos tão mergulhados e compenetrados em nossos conceitos que não os percebemos. Não conhecemos sequer 10% dos nossos conceitos. Daí a frase tão conhecida: "Não nos conhecemos".
Mas como vamos identificar e mudar nossos conceitos?
Uma das formas é o autoquestionamento. Perguntando-nos diariamente se fizemos todo o bem que podíamos ter feito; se recusamos todo o mal; se nenhuma oportunidade de fazer o bem foi perdida.
Outra forma é a do estudo que deve seguir em paralelo ao autoquestionamento. Tomando o Evangelho de Jesus como uma referência, estudaremos a vida e os comportamentos até atingirmos o conhecimento necessário. Depois, praticar este conhecimento constantemente até que ele seja integrado em nossa pessoa de forma a praticá-lo sem dificuldades e naturalmente.
Mas podemos perguntar nesta altura, se depende de nós apenas a solução dos nossos problemas, porque Jesus nos disse no Sermão da Montanha que se pedirmos, obteremos; se buscarmos, acharemos e se batermos na porta ela se abrirá? Não dá a entender que basta pedir para receber? Porque então temos que nos dar ao trabalho de mudar nosso comportamento?
Vejamos a resposta para essas perguntas, que está no Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 25, item 5:
Segundo a compreensão moral, essas palavras de Jesus significam o seguinte: Pedi a luz que deve clarear o vosso caminho, e ela vos será dada; pedi a força de resistir ao mal, e a tereis; pedi a assistência dos Bons Espíritos, e eles virão ajudar-vos, e, como o anjo de Tobias, vos servirão de guias; pedi bons conselhos, e jamais vos serão recusados; batei à nossa porta, e ela vos será aberta, mas pedi sinceramente, com fé, fervor e confiança; apresentai-vos com humildade e não com arrogância, sem o que sereis abandonados às vossas próprias forças, e as próprias quedas que sofrerdes constituirão a punição do vosso orgulho.
É esse o sentido dessas palavras do Cristo: Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á.
Os Espíritos Superiores não se negam, jamais, ao auxílio; não recusam uma oportunidade de serem úteis a quem os procuram. No entanto, nenhum Espírito Superior irá fazer uma tarefa que é nossa responsabilidade ou indicará o que devemos fazer para sair desta ou daquela situação, mas sempre estarão prontos a ensinar, orientar e esclarecer como disse Kardec no item que acabamos de ver.
A confiança que depositamos em Deus é definitiva para caminharmos com a certeza de que estamos no caminho certo. Ao comparar Deus com um pai, e nos ensinando a chamar Deus por Pai, Jesus dá a receita para caminharmos confiantes. (Mateus, 7:9-11).
Afinal, que amor maior do que o amor dos pais pelos filhos? O filho pode causar toda a sorte de desgosto aos pais, pode ser um bandido, pode ser um filho desobediente e não raro o filho abandona os pais para viver sua própria vida. Mas nem por isso os pais deixam de amá-los, de socorrê-los e de lhes dar boas coisas sempre que necessário.
Se, sendo maus como somos, sabemos fazer estas coisas boas aos nossos filhos, quanto mais não fará Deus por nós?
Trabalhemos firmes e confiantes, buscando sempre o Bem, e o socorro de Deus nunca nos faltará.
Site sem fins lucrativos, para a divulgação da Doutrina dos Espíritos.
Criado e mantido por Vitorino José.
Contato: farol@faroldocaminho.com