Vitorino José
Talvez o mês mais esperado do ano seja Dezembro. Fim das aulas, férias, 13º. Salário, Natal, festas, presentes, alegria, muita alegria. Quem não gosta?
Todas as esperanças parecem se renovar com a chegada do natal. Mil planos, passeios, descontração, o lazer esperado... AHHHH!
Enfim, um relax. Afinal ninguém é de ferro mesmo!
Com o dinheiro do 13º, vamos às compras. As vitrines enfeitadas, músicas natalinas parecem perfumar o ambiente enquanto aqui e acolá uma ou outra pessoa na fantasia de Papai Noel, é um convite tentador aos nossos olhos. Quem não gosta?
Em meio a esta alegria, a comida natalina tem de ser caprichada. Pobres leitões e Perus!
Tudo isto para homenagear o aniversariante: Jesus.
Apesar de todos saberem quem é o aniversariante, é curioso observar que em nenhuma loja se vê alguém representando Jesus, mas o Papai Noel é quase uma obrigação.
Chega o dia do aniversário. Mesa farta, as crianças correm para cá e para lá gritando a felicidade do brinquedo novo. Pais, mães, avos e avós se entusiasmam com a alegria reinante enquanto o cheirinho gostoso da carne assada invade o ambiente. A conversa segue animada entre um e outro gole de bebida alcoólica.
Quanto tudo está pronto é hora da bóia. Hoje em dia não tenho certeza se poucas ou muitas famílias ainda tem o hábito de pelo menos fazer uma prece antes da refeição natalina. Com certeza poucas tem verdadeira noção do que ou para que se está orando antes da ceia do Natal.
Garfos à mão! E a comilança atinge proporção incomum nos estômagos. Parece uma competição para ver quem vai comer mais. E de exagero em exagero vamos aos poucos ultrapassando certos limites e partimos para o desequilíbrio seja físico ou mental.
E tudo isso para homenagear Jesus.
Mas nós, espíritas somos um pouco diferentes, espero.
O natal deve ser examinado sobre a ótica espírita. E neste exame podemos destacar 3 pontos que valem a pena comentar:
À primeira vista, a descrição que fizemos acima sobre a festa do natal pode parecer exagero nosso, ou coisa irreal. Ou então pode parecer uma realidade mais comum do que imaginamos e neste caso colocamos como sendo de pessoas que não conhecem o Evangelho, nem o Espiritismo.
Pode ser!
Mas também é verdade que estas festas não são absurdas ou fora da realidade humana, nem sequer está em conflito com a evolução da humanidade.
Desde que o homem começou a viver em sociedade, lá na época das cavernas, os homens se reuniam para comemorar algum acontecimento importante para o grupo. Sobrevivendo basicamente da caça e da pesca, quando retornavam de uma caçada os homens reunidos comiam em grupo o animal caçado.
Provavelmente ficavam contando para os demais os grandes feitos heróicos de seus caçadores. Este costume foi se perpetuando. Em qualquer relato de povos antigos podemos identificar as grandes festas homenageando ou comemorando algum acontecimento importante como a vitória contra os inimigos no campo de batalha. As grandes festividades tornaram-se uma tradição que foi se enraizando no íntimo do homem.
É assim que nos dias de hoje compra-se o peru ou o leitão, prepara-os conforme o sabor da maioria e o grupo, que hoje chamamos família, senta-se em redor do animal e o devora. Igual aos homens das cavernas. Só a forma mudou. Até as brigas que naquela época deveriam existir, hoje também estão presentes, afinal quem nunca teve um natal em família que não tivesse um ou outro olhar mais áspero?
Pois é!
As festanças natalinas nada mais são do que a tradição.
A origem do Papai Noel não é certa. Acredita-se que o personagem surgiu em homenagem a São Nicolau, padroeiro da Rússia e da Grécia. Mas há quem diga que Papai Noel era alemão.
Segundo se conta, Nicolau era um bispo de Mira, na Anatólia por volta do século IV. Mesmo a existência deste bispo não pode ser comprovada por documentos. Teria participado do primeiro Concílio de Nicéia. Depois da morte, seu corpo foi sepultado em Mira, mas em 1087 foi roubado e transladado para Bari, na Itália onde ganhou fama.
Diz-se que Nicolau, bondoso e paciente, resolveu presentear as crianças pobres com doces e guloseimas na véspera do Natal. O ato caridoso enraizou-se na localidade, e com o tempo as crianças de todas as classes sociais colocavam pés de meia do lado de fora da janela para Nicolau depositar os doces. Diz-se também, que depois de ter-se feito bispo, adotou uma vestimenta vermelha, semelhante a do Papai Noel, e para instigar a curiosidade da família, passou a jogar os presentes pela chaminé. Há quem diga que entre os doces e guloseimas passou a jogar algumas moedas de ouro para minimizar a fome da família.
Mas nada disto pode ser comprovado e as façanhas de São Nicolau são descritas por onde se procure notícias da origem do Papai Noel.
A figura de Papai Noel difundida em toda a Europa foi desaparecendo com o surgimento do movimento reformista da Igreja Católica. Apenas na Holanda sua imagem permaneceu forte. Imigrantes holandeses teriam levado este personagem para Nova York no século XVII. Os americanos o adotaram como Santa Claus (Papai Noel).
Sabe-se com certeza que a figura do Papai Noel nem sempre foi como a conhecemos.
Já usou roupas azuis, amarelas, verdes e vermelhas. Também foi magro e alto na arte européia.
A imagem como a conhecemos hoje surgiu em 1931 por um sueco beberrão chamado Haddon SundBlon numa tentativa bem sucedida da coca-cola em conquistar o publico até 12 anos.
Sundblon era alegre, gordo, vermelho e sempre metido em situações engraçadas. Seu exaustivo trabalho de distribuir presentes sempre acabava numa gratificante garrafa de coca-cola.
Apesar do tabu existente na época, o Papai Noel de Sundblon foi tão bem aceito que acabou por reformular a cultura popular americana.
Temos aí o Papai Noel, hoje mais do que nunca, âncora das vendas de fim de ano. A figura bondosa e caridosa transformada em apelo consumista.
Existem muitas histórias sobre a origem da Árvore de Natal.
Uma delas conta que era costume dos povos germânicos, antes da cristianização, pendurarem galhos de pinheiro sobre as portas das casas, no estábulo e nos tetos das moradias. As folhas em forma de agulhas tinham por objetivo espantar maus espíritos, raios e doenças. Já os verdes dos galhos representavam a expectativa positiva com a chegada do inverno.
Com certeza sabe-se apenas que há cerca de 100 anos as Árvores de Natal foram aceitas como enfeite dos templos Cristãos.
Quem deu origem ao presépio foi Francisco de Assis, em 1223.
Na cidade de Groccio, Francisco de Assis não conseguia fazer os colonos entender como havia sido o nascimento de Jesus. Teve uma idéia. Tomou um punhado de argila e fez um bebezinho, mais um pouco e o papai e a mamãe estavam prontos. Depois, os três Reis, os Pastores, uma vaca, um burro, uma manjedoura e finalmente uma estrela. Pronto! Estava construído o primeiro Presépio do mundo.
Então Francisco de Assis pode ensinar, tim tim por tim tim o nascimento de Jesus.
Tudo o que aconteceu na vida terrena de Jesus é cercado de polêmicas e quase nada pode ser conclusivo. Seu nascimento não é uma exceção.
O evangelista Lucas narra com alguns detalhes o seu nascimento. A primeira polêmica é o senso.
Causa curiosidade nos estudiosos o porque do recenseamento ter que ser feito na cidade de nascimento da pessoa e não na cidade de residência, como era o costume. Como o objetivo era obviamente político e econômico, o deslocamento até a cidade de nascimento fica obscuro, sem razão. Por isto, alguns acreditam que Jesus teria nascido em Nazareth e não em Belém. A narrativa de Lucas teria o objetivo de fazer cumprir as Profecias que indicavam Belém como a cidade de nascimento do Messias.
Quanto ao fato de Jesus ter nascido num estábulo, não há nada de anormal para o povo da época.Devido ao frio rigoroso, os animais era colocados em grutas onde permaneciam aquecidos. Era comum às pessoas passarem as noites nos estábulos para aproveitarem-se do calor dos animais e se manterem aquecidos. Não havia lugar nas hospedagens, então o recurso normal era o estábulo.
A narrativa de Lucas não menciona nenhum boi ou asno junto ao nascimento de Jesus. Neste ponto funcionou a imaginação popular.
Jesus foi enfaixado e deitado numa manjedoura.
Os judeus tinham costume de enfaixar o recém nascido para aquecê-lo e limitar seus movimentos. Acreditava-se que seus braços e pernas seriam mais fortes.
Em breve chegaram os pastores que foram avisados pelo Anjo do Senhor.
Os três Reis magos também chegaram para homenagear o recém nascido.
Em poucas palavras aqui está o nascimento de Jesus.
O que parece para alguns estudiosos é que o Nascimento de Jesus, embora não possa ser comprovado, não deixa de ser uma grande lição para a humanidade como se o Mestre dos Mestres estivesse nos ensinando através de mais uma de suas parábolas, a Parábola da Manjedoura.
Esta data é tão importante para a humanidade Cristã que seu nascimento foi usado para dividir o tempo. Por isto algumas datas usam o "a.C." antes do ano indicando ser um ano "Antes de Cristo", ou usam o "d.C.", "depois de Cristo". Alguns usam o "a.D." para indicar o "depois de Cristo". Este "A.D." significa "Anno Domini", ou "Ano do Senhor".
Este sistema foi desenvolvido no século VI pelo monge e escritor cristão Dionísio. No entanto, graças às dificuldades e limitações da época, Dionísio cometeu um erro de cálculo e atrasou o nascimento de Jesus cerca de 4 a 6 anos. Com este erro, o temível fim do mundo, esperado para o ano de 2000, teria acontecido entre 1994 e 1996 pegando todo o mundo de surpresa.
Já sabemos que erramos o ano. Mas, e o dia do seu Nascimento?
Também está errado.
Não se sabe exatamente quando Jesus Nasceu. Sabemos apenas que o Natal já foi comemorado no dia 6 de janeiro, em 25 de março e que existe uma possibilidade de que Jesus tivesse nascido em Abril.
Porque, então, o dia 25 de dezembro?
Em toda história da humanidade encontramos o medo do homem diante das desconhecidas forças da natureza. Para se proteger do que considerava uma ameaça, os homens criaram divindades para controlar fenômenos naturais até então inexplicáveis. Com isso, cada acontecimento marcante era motivo de festa.
O dia 25 de Dezembro marcava o fim do inverno e início da primavera. Como o inverno era muito rigoroso e sombrio, com seus dias acinzentados, o povo comemorava a vinda da primavera, ou mais precisamente do Sol, ou deus Sol. Era a conhecida festa "Saturnália". Simbolizavam então, o renascimento da vida. Era como se uma fase negra fosse vencida e a vida ressurgia com a primavera.
Como a vinda de Jesus ao mundo representa uma ressurreição para todo o mundo cristão, existe uma semelhança entre o nascimento de Jesus (ressurgimento da nova vida) com o renascimento da vida comemorado no dia 25 de Dezembro.
A fixação do Natal neste dia aconteceu a partir de 440 d.C., numa tentativa bem sucedida de cristianizar a festa pagã "Saturnália".
Podemos notar a grande influência pagã no seio do Cristianismo, criando tradições, algumas já milenares, e hoje ainda enraizadas na nossa sociedade.
Algum espírita mais atento pode perguntar como o Espiritismo aceita tudo isto, mesmo sabendo que é de origem pagã?
A função do Espiritismo, enquanto Consolador Prometido, não é a de efetuar mudanças ou renovações no sentido de modificar quaisquer hábitos ou tradições humanas. Seu objetivo é o de esclarecer. Cabe ao Espiritismo esclarecê-las para que o Evangelho, na sua maior pureza possa sempre ser entendido e praticado por todos nós.
Por isso mesmo, ao chegar o Natal o espírita deve ter consciente as funções espirituais e materiais de cada um dos acontecimentos desta época do ano. Devemos separar as festividades e costumes sociais das necessidades espirituais desta data.
Jesus veio ao mundo para deixar sua mensagem de amor, de fé e de esperança. É nossa obrigação entender esta mensagem que começa na manjedoura e até hoje não terminou.
Chamamos Jesus de Mestre dos Mestres por ter sido Ele o único a exemplificar em toda a sua vida aquilo mesmo que ensinava, enquanto todos os outros mestres não praticaram totalmente o que ensinaram.
Por toda capacidade de Amar, pela dedicação ao próximo é que comemoramos seu aniversário a cada ano. No entanto, esta comemoração precisa ir além das sensações que as festas natalinas nos dão. Devemos buscar o sentido essencialmente espiritual deste acontecimento. Não podemos negar o simbolismo do momento e nos perguntar: o que o Natal representa para cada um de nós?
Sabemos que representa o renascimento, a morte do velho para o surgimento do novo. Neste conceito podemos definir que o Natal é o momento de perdoar, de pedir perdão; de buscar mais amor, mais concórdia, união e paz. É tempo de estimular a caridade, doando o que temos de sobra ou mesmo algo mais importante que isso. Doar amor não custa nada e faz enorme bem.
Mas também temos de convir que esta necessidade espiritual deve ser cumprida todos os dias do ano e não apenas no Natal. Mas, já que não conseguimos praticar todos os dias do ano, porque não começar no Natal? Se fizermos estas coisas boas, apenas no Natal, quem sabe um dia estaremos fazendo estas coisas boas num outro mês, e depois em outro e assim sucessivamente até que um dia consigamos fazer todos os dias como se fosse algo muito comum, corriqueiro...
Porque não aproveitamos a oportunidade e iniciamos um exame de consciência para saber se este ano agredimos alguém? Será que não deixamos passar em branco alguma coisa de bom que poderíamos ter feito e não fizemos?
Já que não somos capazes de fazer esta reflexão todos os dias do ano, porque não fazer pelo menos uma vez por ano?
Aproveitemos... O clima ajuda...
Afinal, Jesus nasceu ou não em 25 de Dezembro?
O que importa?
Se perguntarmos a Paulo de Tarso quando Jesus surgiu no mundo, certamente ele dirá que foi na Estrada de Damasco;
Se perguntarmos a Pedro, certamente ele nos dirá que foi no terceiro canto do galo;
Se perguntarmos à Maria de Madalena certamente ela nos dirá que foi em Betânia, naquela tarde em que ele escreveu na areia;
Se repetirmos a pergunta a Tomé, certamente ele nos dirá que Jesus nasceu em Jerusalém quando pode certificar que a morte não tinha poder sobre o Mestre.
O nascimento de Jesus não está vinculado a uma data, pois isto é apenas tradição humana, mero convencionalismo. De fato, Jesus nasceu em nossas vidas no dia em que nossa consciência foi despertada para o Seu Evangelho.
E para você, quando foi que Jesus nasceu?
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